sábado, 20 de junho de 2009

Enfermeira relata a luta de paciente para conseguir respirar

Fonte:G1
Níveis de gás carbônico no sangue eram elevados por causa de câncer.Especialista compara problema à situação de um peixe fora d'água.
"Peixe fora d'água" pode ser uma metáfora já gasta, mas é uma boa descrição de como eu me sentia quando comecei a trabalhar como enfermeira. Eu era professora de inglês, acostumada com a conversa dos colegas na hora do café, com a segurança que eu tinha nos livros, com a certeza de que não importavam minhas falhas como professora, pois, no final, a vida de ninguém estava em risco. Depois, estava sozinha em um quarto de hospital com uma jovem que não conseguia respirar. Paciente de câncer que lutava contra uma grave infecção, ela tinha sido transferida da UTI para o meu andar, meia hora antes. Ela estava sentada na cama, ofegante e tremendo descontroladamente. Sua reserva de oxigênio estava conectada e fluindo, mas o sistema de umidificação não estava borbulhando da forma como deveria. Nesse momento, ela gemia. "Ligue!", dizia ela. "Ligue!" Eu manuseei o umidificador, mas então decidi não esperar. "Estou ligando seu oxigênio", disse a ela, puxando o tubo do sistema de umidificação e reconectando-o à reserva de oxigênio do outro lado da cama. Então, subi o oxigênio para seis litros, o máximo que pode ser entregue através das cânulas de plástico responsáveis por enviar o oxigênio às narinas.

Batimentos No entanto, o aumento repentino não trouxe alívio. Ela ainda ofegava, de boca aberta. Saí do quarto e peguei um dispositivo para medir seus batimentos cardíacos e a saturação do oxigênio em seu sangue. A medida era de apenas 80% (o normal é de 98% a 100%), e os batimentos cardíacos eram ainda mais alarmantes: 160, rápido demais para permitir que o oxigênio circule adequadamente através do corpo, e tão rápido que a pressão sanguínea pode cair perigosamente. Outra enfermeira olhou para o quarto. "Algo errado?", perguntou ela. "Chame Lisa", eu disse, referindo-me à enfermeira responsável naquele dia. Fiquei ao pé da cama da paciente como uma sentinela, observando seu pulso: 69 por segundo, depois novamente 80. Lisa chegou, carregando a maca, enquanto outra enfermeira trazia o Zoll, nosso monitor cardíaco portátil e desfibrilador. Uma terceira enfermeira olhou para o dispositivo de pulso e depois para mim. "Devemos agir", afirmou, referindo-se ao fato de que deveríamos acionar uma equipe da UTI para nos ajudar. Lisa os acionou, e acho que ouvi o anúncio de "condição C", de crítica. O que eu mais me lembro é de ter aplicado o desfibrilador, e pensado que colocá-lo numa pessoa tremendo e ofegando por ar é muito diferente de aplicá-lo num boneco de plástico na aula de ressuscitação cardiopulmonar.

Re-respirador Quando os enfermeiros e os médicos da UTI chegaram, demos à paciente metropolol intravenoso para controlar os batimentos cardíacos e a colocamos num "re-respirador", uma máscara que nos permitia entregar 15 litros de oxigênio. A saturação subiu para mais de 90, mas os batimentos cardíacos permaneceram altos e ela ainda não conseguia respirar normalmente. No final, os sintomas e os números disseram tudo, então ela voltou para a UTI, ainda ofegante por ar, a boca aberta e tensa sob a máscara. Respirar exigia tanto esforço que os músculos de seu pescoço ficaram profundos, como guelras. Descobri depois que o problema residia nos níveis de dióxido de carbono, que estavam altos demais. Os humanos geralmente liberam esse gás como parte normal da respiração, mas minha paciente não podia fazer isso, provavelmente porque o câncer cobriu seus pulmões. Nas duas semanas seguintes, ela fez mais viagens de ida e volta para a UTI. Ela parecia estável o suficiente para voltar ao andar, mas então, de repente, precisava do tipo de apoio respiratório que só a unidade de tratamento intensivo poderia oferecer. Um dia, soube que ela tinha morrido. Sem uma autópsia, é impossível dizer o motivo, mas só a devastação de seus pulmões seria mais que suficiente. "Peixe fora d'água": funciona como uma metáfora, mas ver isso na vida real? Deixei a academia para buscar a enfermagem porque queria um trabalho que tivesse sentido. Apesar de ter enfrentado dificuldades com minha mudança de carreira e as diferenças entre a vida universitária e a hospitalar, não houve um dia sequer no qual eu enfrentasse tantas dificuldades quanto a que a minha paciente enfrentou naquele dia, somente para respirar.

Theresa Brown é enfermeira especializada em oncologia.

Surtos de febre tifóide nos anos 1950 dão exemplos para nova gripe

Fonte: G1

Barron H. Lerner leciona no Centro Médico da Universidade de Columbia.Ele escreveu artigo no jornal americano "The New York Times".
Edward Schecter se recorda de escutar os médicos dizendo que ele iria morrer. Sua febre havia chegado a 41 graus. Os médicos o colocaram numa banheira cheia de gelo e então ministraram um antibiótico de último caso, cujos efeitos colaterais poderiam tê-lo matado. Antes de seu tormento acabar, ele perderia mais de dez quilos. Era agosto de 1952, e Eddie Schecter, então um frequentador de seis anos do Campo Recreativo Judeu Hi-Li, localizado na parte Far Rockaway do Queens, era o sobrevivente mais doente de uma das últimas grandes epidemias de febre tifóide da cidade de Nova York – um acontecimento que traz ecos assustadores, e úteis lições, para a atual pandemia de gripe suína H1N1.
O diagnóstico inicial de tifóide, uma doença bacterial caracterizada por febre, letargia, dores abdominais e erupções na pele, foi como um golpe de sorte. Em grande parte desconhecida, a doença estava desaparecendo da maioria das cidades americanas, naquela época vítima da melhora no saneamento. Os pais que mandavam seus filhos a campos estavam muito mais preocupados com a pólio. Naquela manhã de agosto, quando Eddie estava febril demais para ir ao campo recreativo, seus pais chamaram o médico da família, o Dr. Sidney Rothstein. Judeu polonês, sobrevivente do holocausto, Rothstein conhecia muito bem a doença de seu tempo de guerra na Europa. Ele levou pessoalmente seu paciente a um hospital e insistiu para que o garoto recebesse cloranfenicol, um controverso antibiótico que, em casos raros, causava supressão fatal da medula óssea – mas que provavelmente salvou a vida de Eddie. Assim como Eddie ficou doente, também ficaram dúzias de outros frequentadores do campo Hi-Li.
Médicos notificaram o Departamento de Saúde de Nova York, que, trabalhando com colegas de Nassau County, iniciaram uma investigação epidemiológica em 12 de agosto. A epidemia acabou infectando 51 pessoas. Era uma grande notícia, revivendo as lembranças de “Maria Tifóide” Mallon, uma cozinheira que havia disseminado a doença no início do século e levado três pessoas à morte. Funcionários salutares suspeitaram que, como Mary Mallon, alguém responsável por preparar as comidas no campo Hi-Li era portador da bactéria da febre tifóide.
Embora saudáveis, esses indivíduos abrigavam o germe em seus intestinos e podiam inadvertidamente espalhá-lo na comida por suas mãos. Em 15 de agosto, o Departamento de Saúde encontrou o culpado: uma mulher de 45 anos que trabalhava como cozinheira do Hi-Li desde 1950. Aparentemente, o departamento realizou um ótimo trabalho ao obstruir a epidemia. Eles fecharam o campo e enviaram enfermeiras às casas de todos os frequentadores doentes, administrando doses de vacina preventiva nos membros da família. Embora a taxa de mortalidade da febre tifóide chegasse a 10%, todos os pacientes sobreviveram. Ao contrário de Mary Tifóde, a cozinheira parece ter seguido o conselho dos funcionários da saúde pública e parou de trabalhar com comida. No geral, o episódio foi um precursor da agressiva – e calculada – reação que o Departamento de Saúde e Higiene Mental de Nova York empregou na crise da gripe suína. Mesmo assim, naquela época, os funcionários não conseguiram acalmar o medo que tomou conta de Far Rockaway e das comunidades vizinhas, embora dissessem às pessoas que a doença não era disseminada casualmente.
Carol Schartz, irmã de Eddie, lembra-se de ir à casa de uma amiga para assar brownies. “Eu estava completamente saudável”, ela disse recentemente, “mas a mãe dela gritou para que eu saísse de lá”. Felizmente, alguns aspectos do atendimento da saúde mudaram desde 1952. No Hospital Meadowbrook, em Long Island, onde os médicos estabeleceram uma ala temporária de quarentena para os freqüentadores do Hi-Li, Eddie não podia ter contato direto com sua família. Seus pais podiam apenas acenar para ele, de uma janela próxima. “Os médicos chegaram a dizer que, se eu chorasse quando retirassem meu sangue, meus pais não me visitariam mais”, ele lembrou há pouco tempo. Todavia, as boas lembranças também persistiram.
Quando o rabino que administrava o campo Hi-Li convidou Eddie para retornar no verão de 1953, ele e seus pais aceitaram. Ele voltou por diversos verões depois disso, e aos 12 anos já tinha decidido a carreira que seguiria. Hoje, aos 63 anos, ele é o rabino do Templo Beth Shalom, em Hastings, Nova York. Eu sou um membro da sinagoga. “Depois daquele verão”, disse, “minha mãe sempre me dizia que eu havia sido salvo por um propósito”.

Creme para câncer de pele pode melhorar aparência de rugas, sugere estudo

Fonte: G1
Pesquisa americana registra efeito colateral mas alerta contra uso de fluorouracil com finalidade puramente cosmética.
Um creme usado para tratar lesões pré-cancerosas da pele também reverte sinais de envelhecimento, revelou estudo de cientistas americanos. Além de remover protuberâncias suspeitas de pele danificada pelo sol, a droga fluorouracil melhora a aparência de rugas, manchas escuras e olheiras.
Pacientes com ceratose actínica pré-cancerosa (manchas que se distinguem do bronzeado por só desaparecer por cirurgia ou tratamento químico) podem esperar, como efeito colateral do tratamento, ter uma pele com aparência mais jovem, de acordo com artigo escrito pelos pesquisadores na revista médica "Archives of Dermatology".
Os especialistas advertem, contudo, contra o uso da droga para finalidade exclusivamente cosmética, dizendo que ela pode causar forte reação na pele. O tratamento encoraja o organismo a produzir pele nova saudável ao danificar deliberadamente a camada mais externa da pele, assim como ocorre em peeling químico e tratamento com laser.
Testes
Em testes realizados com 21 voluntários portadores de ceratose actínica e pele danificada por exposição ao sol, os cientistas aplicaram creme com fluorouracil duas vezes ao dia por duas semanas e verificaram uma melhora significativa na pele, com a remoção de manchas pré-cancerosas e a reversão de alguns sinais de lesões causadas pelo sol.
A equipe de cientistas liderada por Dana Sachs, da Escola de Medicina da Universidade de Michigan em Ann Arbor, disse: "Sem dúvida, haverá pacientes que desejam uma terapia como a aplicação de fluorouracil para finalidades cosméticas dado o custo relativamente baixo desta terapia em comparação ao uso de laser". Sachs acrescentou que essa estratégia, contudo, "pode não conseguir o mesmo grau de melhoria" atingido com o tratamento de rugas com laser

Botox ajuda pacientes que não andam a recuperar movimentos

Fonte: G1
O botox é mais conhecido pelo uso em consultas estéticas. Mas, no uso terapêutico, pode atuar contra várias doenças e lesões.
Faz 16 anos que o sociólogo Naelson Ferreira trata uma doença neurodegenerativa. Ele toma 18 remédios por dia. “Cheguei a ficar dois anos cadeirante”, conta. Hoje ele anda, com um pouco de dificuldade. Conseguiu se levantar depois que começou a usar, há quatro anos, toxina botulínica. “Onde era rígido no meu corpo, hoje tenho uma facilidade para os movimentos”, compara.

Luis ficou tetraplégico depois que bateu a cabeça durante o mergulho em uma piscina. Com uso da toxina botulínica e muita fisioterapia, já sinalizou uma melhora. “Pacientes com lesão medular alta, chamados tetraplégicos, não deveriam ter movimentação da altura do pescoço para baixo. Seriam membros superiores e inferiores. No caso do Luis, com toxina e fisioterapia, ele consegue ter movimentação ativa de flexionar o braço”, explica o fisioterapeuta Hermenegildo Neto. Luis, Naelson e outras 400 pessoas fazem uso da toxina botulínica no Centro de Referência de Estudos do Movimento. Desde que a toxina começou a ser usada neste tipo de tratamento, no final de 2006, todos os pacientes tiveram alguma melhora. “A toxina botulínica tem como efeito o relaxamento da contratura muscular. Com isso, temos ganho de movimento e alívio de dor”, afirma o neurologista César Augusto Nicolatti.
O médico diz que as aplicações da toxina são frequentes, em um intervalo mínimo de três meses: “É um tratamento prolongado, que não tem uma definição de por quanto tempo deve ser usado”. Há sete anos, Sócrates trabalhava, tinha uma vida normal. Hoje está em uma cadeira de rodas, também por causa de uma doença neurodegenerativa. Sócrates começou a usar a toxina botulínica e já pode mostrar o resultado. Ele sabe que não é a cura, mas aos 34 anos conseguiu ter de volta um pouco do movimento do braço: “É uma reconquista”, comemora.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária também aprova o uso do botox para tratamentos de estrabismo e hiper-hidrose, que é o excesso de transpiração nas mãos e nas axilas

Avaliando revistas de ciência e cientistas

Postado por Alysson Muotri -G1
O progresso na ciência é fruto da publicação de novas ideias e experimentos, na maioria das vezes em periódicos ou revistas científicas que se baseiam na revisão anônima por outros cientistas da mesma área. Existem diversas opiniões sobre quais são as revistas científicas mais influentes. Infelizmente, tem sido difícil encontrar um método métrico simples para quantificar esse impacto.
A maioria dos cientistas acaba confiando no já desgastado Fator de Impacto (FI), que é publicado virtualmente pelo portal ISI Web of Knowledge. O FI consiste na média do número de citações num determinado ano dos trabalhos científicos publicados em revistas nos dois anos prévios. Diversos fatores podem influenciar o FI, como o número total de citações ou número total de trabalhos publicados por ano.
Um recente trabalho de estatística concluiu que nenhum dos parâmetros usados atualmente reflete com clareza a influência das revistas científicas (Bollen e colegas, e-Print Archive 2009). No entanto, um novo parâmetro foi recentemente proposto, o Eigenfactor, que tenta classificar a importância das revistas de uma maneira semelhante à usada pelo algoritmo do portal de buscas do Google. Durante a busca, o Google mostra os resultados baseando-se na frequência de acesso aos links relacionados à palavra-chave utilizada. Dessa forma, classifica os links mais utilizados como os mais relevantes, colocando-os no começo da página que mostra os resultados da busca.
Na prática, o Eigenfactor tem uma correlação forte com o número de citações recebidas por uma determinada revista. Por exemplo, o gráfico ao lado mostra o Eigenfactor de 2007 das 200 revistas mais citadas, contra o número total de citações (Alan Fersht, PNAS, 2009). Para quem está acostumado com os periódicos científicos, o resultado é um tanto inusitado. Três revistas se destacam das outras como as mais influentes em ciência: “Nature”, “PNAS” e “Science”. Uma das surpresas é a “PNAS”, que publica alguns artigos sem a revisão por pares - privilégio esse restrito a membros da academia americana de ciências. Outra surpresa fica por conta da revista “Cell”, cuja reputação é respeitadíssima no meio acadêmico, e que aparece numa posição bem inferior a outros jornais tidos como de baixo impacto.
O terrível legado do FI é que ele tem sido empregado para avaliar cientistas, e não as revistas em si. Essa percepção é, a meu ver, totalmente equivocada. A avaliação de um pesquisador deve ser feita através da análise cuidadosa de sua produção científica ao longo dos anos por cientistas experientes em áreas semelhantes. Infelizmente, burocratas buscam uma fórmula métrica simples. A ênfase no FI aumenta com a falta de avaliadores competentes em determinadas áreas.
Um exemplo extremo disso acontece em alguns países europeus, que avaliam seus cientistas e a qualidade dos trabalhos dando valor zero aos trabalhos publicados em revistas com FI menor que 5 e valores acima de zero aos trabalhos publicados em revistas com FI maiores que 5. Segundo essa lógica, um trabalho publicado na revista “Journal of Molecular Biology” não vale nada, mesmo sendo essa uma das melhores revistas na área de estrutura de proteínas.
Vale lembrar que todas as revistas têm um amplo espectro de citações nos trabalhos lá publicados. Mesmo as revistas de maior FI já publicaram trabalhos que nunca foram citados, trabalhos fraudulentos e mesmo alguns que são bem ruins. Dessa forma, fica ridículo julgar um cientista baseando-se apenas no tipo de revista em que publica seus achados.
Talvez a melhor das piores maneiras métricas de se julgar a contribuição de um cientista seja pelo índice h, que classifica a influência do pesquisador levando em conta o número de citações que este recebe pelo número de trabalhos publicados. Um “h” de 100 significa que 100 trabalhos publicados foram citados pelo menos 100 vezes cada (Hirsch J., PNAS 2005). Curiosamente, o trabalho do índice “h” já teve um assombroso número de acessos pela internet comparado ao número de citações (262) desde a publicação em 2005. O sistema do índice “h” também não é perfeito. Por exemplo, uma descoberta fenomenal pode levar tempo até ser reconhecida pela comunidade científica e ficar sem receber citações por um tempo longo.
Conforme a ciência avança e se especializa cada vez mais, fica difícil fazer uma avaliação justa da produção cientifica de um pesquisador num espaço de tempo curto. Daí a tentação de usar sistemas métricos. Por isso mesmo, é importante não se basear num sistema único. Afinal de contas, ciência é sempre relacionada com progresso social que, em última instância, é um fator baseado no julgamento humano.

Um órgão de altíssima… imperfeição

Fonte: G1
Parece quase ingratidão desancar um órgão que normalmente presta tão excelentes serviços à nossa espécie, mas vamos direto ao ponto: o olho humano é, no máximo, um quebra-galho. Se tivesse sido projetado para uma feira de ciências, levaria nota 6, e olhe lá. Se fosse um novo gadget, destinado a competir com o iPhone, encalharia nas prateleiras. Apesar do seu funcionamento aparentemente azeitado, nosso olho está longe de ser perfeito, e a culpa de seus inúmeros “defeitos de fábrica” é do processo evolutivo complicado e tortuoso que o trouxe até aqui.
É irônico chegar a esse tipo de veredicto sobre nosso aparato visual, principalmente quando se considera que a suposta perfeição dele foi e continua sendo usada como argumento CONTRA a ideia de evolução por meio da seleção natural. Um órgão tão complexo e de funcionamento tão avançado, argumentam os críticos da evolução desde Darwin, jamais poderia ter sido “montado” passo a passo, mas só poderia ter sido projetado de uma vez por todas pela interferência direta de uma inteligência divina.
Deixemos de lado o fato de que o mundo pulula de criaturas com olhos bem mais simples que os nossos, as quais sobrevivem um bocado bem mesmo assim (e cujo aparato visual, aliás, pode muito bem servir de análogo para o que deu origem ao nosso, mais sofisticado). Vamos analisar apenas o design do nosso olho, esse suposto prodígio de complexidade e infalibilidade. Por que será que todos os modelos dele já saem de fábrica com um ponto cego?
GambiarraPorque o design do sistema captador de luz do nosso olho é, digamos, meio porco. A coisa toda está de ponta-cabeça, para começar. A informação luminosa vinda do ambiente externo é captada pelas células fotorreceptoras (receptoras de luz), que estão situadas na camada MAIS FUNDA da nossa retina e depois passam esses dados para o cérebro através do nervo óptico. Não seria muito mais fácil e lógico se elas estivessem no topo da retina, de maneira a captar diretamente a luz? Seria, mas a luminosidade precisa atravessar várias camadas de células nervosas e vasos sanguíneos para finalmente ser “lida”.
Pior ainda: o fato de o corpo das células fotorreceptoras estar “de costas” para a luz faz com que as fibras nervosas oriundas delas se juntem mais em cima, formando o nervo óptico, o qual precisa passar por um BURACO na retina no seu caminho rumo ao cérebro. É justamente esse buraco que forma o ponto cego na visão de vertebrados como nós – um ponto cego que precisa ser corrigido “virtualmente” pelo cérebro quando este interpreta as informações visuais captadas pelo olho.
Essa gambiarra cerebral seria totalmente desnecessária se o design do olho fosse mais “racional”. E temos exemplos vivos disso. São os cefalópodes – moluscos como o polvo e a lula, cujo olho é muito parecido com o nosso, mas cuja retina está organizada segundo boas normas de engenharia e tem as células receptoras de luz no topo, e não no fundo. Isso dispensa a necessidade de o nervo óptico abrir um rombo na retina dos polvos e das lulas.
A explicação para a diferença é uma só: trajetórias evolutivas distintas. O mais provável é que o ancestral dos vertebrados, que nos legou uma forma primitiva do que acabaria se tornando o nosso olho, fosse um bicho marinho pequeno e quase transparente, explica o médico Steven Novella, da Universidade Yale (EUA), em artigo para a revista científica de acesso livre “Evolution: Education and Outreach”.
Nas condições desse protovertebrado, a organização específica das camadas da retina pouco importava. Por isso, a ordem não muito razoável acabou se fixando nos descendentes dele, da mesma maneira que a ordem mais “lógica” se tornou o padrão entre os descendentes dos primeiros cefalópodes. O problema é que, nos dois casos, a disposição das camadas da retina virou um esquema fixo do desenvolvimento embrionário, que o organismo não mais conseguia reverter. Ora, não era possível simplesmente “demolir” tudo e recomeçar do zero. A evolução do olho teve de prosseguir usando as matérias-primas à mão, aperfeiçoando onde dava e não mexendo onde não dava, mais ou menos como quem constrói um puxadinho quando acabou o espaço da casa.
Doenças da evoluçãoPara Novella, é justamente esse modelo evolutivo do puxadinho que explica uma série de problemas de saúde ligados ao design emporcalhado da visão. Exemplo número 1: perda de acuidade visual associada à diabetes crônica, a chamada retinopatia diabética. O que ocorre é que os vasos sanguíneos que alimentam a retina ficam em cima dela. Nos casos crônicos de diabetes, ocorre uma falta de oxigenação nesses vasos. Para compensar, a retina estimula o crescimento de mais deles – o que faz com que os vasos sanguíneos simplesmente fiquem na frente da retina, atrapalhando a visão. Seria muito mais lógico que a irrigação sanguínea viesse DE TRÁS da retina. Seria, mas não é o que acontece.
Exemplo número 2: descolamento da retina, que também pode causar cegueira. Você nunca vai achar um polvo com esse problema, porque as terminações nervosas (os chamados axônios) das células fotorreceptoras desse bicho ajudam a ancorar tais células firmemente nas camadas mais profundas da retina. Já a organização invertida da retina humana deixa tais terminações “no ar”, o que pode favorecer o descolamento.
Exemplo número 3: degeneração macular, a causa mais comum de cegueira no mundo. Trata-se de uma disfunção na mácula, a região da retina onde há a concentração mais densa de células fotorreceptoras. Acontece que a mácula só existe como uma forma de compensar a organização tosca da retina: é uma pequena área que está “limpa” de nervos e vasos sanguíneos, tornando-se central para a visão. Problemas nela levam a uma perda séria da precisão visual. De novo, polvos e lulas não precisam de mácula e, portanto, não sofrem de degeneração macular.
Músculos demaisEngana-se quem pensa que a retina invertida é a única grande falha de design no olho humano, diz Novella. Ainda mais sem-vergonha é a estrutura dos músculos que governam o movimento dos olhos. Primeiro, há mais músculos do que o necessário: são seis, enquanto três bastariam para todos os movimentos possíveis do globo ocular. Pior ainda, esses seis músculos NÃO são redundantes entre si: se houver falhas em qualquer um deles, o movimento fica tão prejudicado que o resultado é uma visão dupla ou outros problemas.
Bastaria que o número de músculos fosse reduzido para que o design se tornasse mais robusto, menos sujeito a falhas – afinal, há menos peças para “quebrar” ao longo do caminho. Mas tudo indica que o nosso olho é só uma versão modificada do olho de peixes primitivos, que tinham SETE músculos oculares (os cães ainda têm esse mesmo número, o qual também já foi registrado em alguns poucos indivíduos humanos). A nossa bagagem histórica, mais uma vez, acaba pesando e causando problemas.
Eis, portanto, o paradoxo da evolução de órgãos complexos, que pode ser estendido, em maior ou menor grau, para qualquer característica humana ou animal. O “design” é sempre de baixo para cima, e nunca de cima para baixo. A reciclagem e o pão-durismo imperam: estamos falando de puxadinhos, e não do Empire State. E, no entanto, essa fraqueza é um bocado forte; do simples e do não-guiado emerge a variedade, a beleza e a adaptação a todo tipo de ambiente. De certa maneira, é uma forma de “arte” espontânea e colaborativa que já dura 4 bilhões de anos.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Fibromialgia

Para a pesquisa dos pontos padronizados deve-se manter o paciente sentado sobre a mesa de exame, questionando-o sobre a sensação dolorosa, após a pesquisa de cada ponto padronizado, um a um, bilateralmente em cada região anatômica, no sentido crânio-caudal (WOLFE et al., 1990). Recomenda-se o uso comparativo de pontos, ditos controles, como o leito ungueal do polegar, ponto médio na face dorsal do antebraço, fronte, terço médio do terceiro metatarso, que, supostamente, correspondem a locais menos dolorosos que os pontos padronizados. O uso de dolorímetro ou algômetro, dispositivo que determina a intensidade de pressão por área (MC CARTHY, GATTER, STEELE, 1968), fornece dados mais objetivos, importantes em estudos controlados. Na rotina clínica, a pesquisa dos pontos dolorosos por meio de digitopressão é comparável à avaliação feita com o dolorímetro em termos da positividade dos pontos (RASMUSSEN, SMIDTH, HANSEN, 1990, SMYTHE et al., 1992; SMYTHE, BUSKILA, GLADMAN, 1993), no entanto não fornece dados quanto ao limiar de pressão a partir do qual um ponto pode ser considerado positivo. Na fibromialgia o limiar doloroso médio dos pontos padronizados, assim como dos pontos controle é mais baixo que em outras doenças reumáticas (WOLFE et al., 1990; Buskila et al., 1993). A presença de 11 dos 18 pontos padronizados tem valor para fins de classificação, entretanto, de acordo com SMYTHE, BUSKILA, GLADMAN, 1991, em casos individuais, pacientes com menos de 11 pontos dolorosos poderiam ser considerados fibromiálgicos desde que outros sintomas e sinais sugestivos estivessem presentes. Outros achados do exame físico incluem o espasmo muscular localizado, referidos como nódulos, a sensibilidade cutânea ao pregueamento (alodínia) ou dermografismo, após compressão local. A sensibilidade ao frio também pode estar presente e manifestar-se como "cutis marmorata" em especial nos membros inferiores (WOLFE et al., 1990). Os exames laboratoriais e o estudo radiológico são normais e, mesmo quando alterados, não excluem o diagnóstico de fibromialgia, uma vez que esta pode ocorrer em associação a artropatias inflamatórias, a síndromes cervicais ou lombares, a colagenoses sistêmicas, à síndrome de Lyme e a tireoidopatias (WOLFE et al., 1990). Cerca de 10% dos pacientes apresentam positividade do FAN em baixos títulos (Goldenberg, 1989).

A Importância da Psicossomática

Psicóloga Flávia Cristina Santos de Souza
A psicossomática integra os profissionais ligados à área humana e é um recurso indispensável para que o indivíduo construa um sentido para sua vida.
O paciente passa por um processo psicossomático, para que se torne e assim consiga construir um discurso sobre si próprio e sobre tudo o que lhe ocorre. A doença é peculiar a cada doente e o processo de cura será peculiar também para cada doente, partindo do princípio que são indivíduos diferentes.
Doença e cura são dialéticas inseparáveis, pois, a doença é ausência de saúde e a psicossomática pode possibilitar o equilíbrio do indivíduo. A psicossomática não visa a doença e sim a busca do indivíduo para que ele integre o seu pensar, agir e sentir, tornando viável a cura. O indivíduo quando atinge este integrar, torna-se um indivíduo autêntico, dando importância às suas vivências, que adquire com a vida. Quando o indivíduo encontra o que há de mais significante em si, é quando passa a existir.
A psicossomática em sua práxis, possibilita o ser humano a tomar consciência de sua existência facilitando, não apenas a remoção do sintoma mas sim que o indivíduo através de sua própria reflexão, deixe de ser paciente para poder reverter todos os seus sintomas, tornando-se mais flexível para escolher uma melhor qualidade de vida para si próprio, se responsabilizando por si e não responsabilizando o outro.É um trabalho conjunto, cada profissional respeitando o seu limite e a flexibilidade do outro. Trocando informações entre si, visando o indivíduo no presente e possibilitando o vislumbramento do seu futuro para que ele próprio possa construí-lo, que sejamos apenas instrumentos facilitadores, pois, no interior do indivíduo encontramos algo peculiar somente à ele.
Etimologia em grego significa: "O verdadeiro sentido". O verdadeiro sentido do sintoma só o próprio paciente poderá nos dizer."Todas as coisas, por um poder imortal, próximas ou distantes, ocultamente estão unidas entre si, de tal modo que não podes agitar uma flor sem transformar uma estrela".Francis Thompson(1859-1907) "O mesmo que nos leva a adoecer é o mesmo que nos permite a cura". Jack Lawson

Parto: vaginal ou cesariana

Ana Maria Moratelli da Silva Rico. Psicóloga clínica
Sabe-se, atualmente, que mediante uma série de sinais complexos, mãe e criança realizam um compromisso que coloca um fim à duração da gravidez. Neste contexto, os tipos de parto são vivenciados de maneira diversa por cada mulher, pois têm relação com sua história de vida, tipo de personalidade, momento da gravidez e história do casal.
Há mulheres que se sentem seguras para optar pelo parto vaginal espontâneo, com o mínimo de anestesia, cooperando ativamente no processo do nascimento de seu bebê. Geralmente, são gestantes que participaram de treinamento da respiração e relaxamento para controlar as contrações uterinas, em cursos psicoprofiláticos.
Se o parto transcorre sem complicações, a mulher vivencia uma das experiências mais profundas e plenas de sua vida e o vínculo com o bebê se consolida mais facilmente, além de que o nascimento é sentido como uma transição natural da criança, dentro do útero para os braços maternos. Mas, se ao contrário, for vivenciado como doloroso e traumático, a mãe pode se ressentir pelo fato do filho tê-la feito sofrer tanto, o que pode gerar emoções de hostilidade e rejeição em relação a ele.
Durante as contrações uterinas, o bebê encontra-se adormecido, portanto não sente dor. Ele só desperta no momento das contrações finais quando se prenuncia sua expulsão. Estas contrações realizam uma espécie de massagem cutânea na criança e que levam ao amadurecimento final do aparelho respiratório, necessário para o funcionamento na vida aérea, bem como um melhor desempenho de funções como percepção, capacidade de reagir a estímulos ambientais e maior vivacidade, pois eleva o nível de excitabilidade neural, facilitando o desenvolvimento motor e a capacidade de orientação espacial.
Para facilitar a saída do bebê e evitar lacerações e roturas do assoalho pélvico, o obstetra efetua a episiotomia, que é um corte de aproximadamente 4 cm feito no períneo, com anestesia local ou peridural. Emocionalmente, a episiotomia pode ser percebida com grande desconforto nos primeiros dias do pós-parto e, por algum tempo, pode gerar temor de abrir os pontos, quando do reinício das relações sexuais, mesmo que a cicatrização já esteja completa.
Com o parto vaginal, a criança é colocada sobre o ventre materno, estabelecendo um continuamento entre a vida intra-uterina e aérea, pois o bebê, escutando o batimento cardíaco e a voz materna, como também, sentindo seu cheiro e calor, reconhece e mantém os referenciais adquiridos na vida pré-natal. Isto o reassegura e acalma.
Quando a dor se aproxima, as parturientes apresentam maior ou menor capacidade para controlá-la,, pois a história de cada uma entra em jogo. Assim, enquanto que uma se surpreende e esgota todos os seus recursos, a outra enfrentará sem maiores dificuldades. Mas, para grande parte das mulheres, a dor ainda simboliza o parto. Desta forma, quando por algum motivo médico têm que fazer cesariana, sentem-se frustradas, menos mães, por não terem passado por essa experiência ancestral, que é a de sentir as dores do parto normal.
O modo como a parturiente suporta a dor, aceita ou não sofrer tem um sentido que pode ser cultural ou por questões relacionadas a conflitos com sua própria mãe. O importante é que ela saiba que pode recorrer à anestesia peridural durante o trabalho do parto, se a dor lhe parecer insuportável.
Um fator de grande interesse é em relação à duração do trabalho de parto. Enquanto algumas mulheres dão à luz em pouquíssimas horas, outras levam muito mais tempo, sentindo contrações muito dolorosas. Esta lentidão em dar à luz, poderia ser compreendida como a presença de desejos ambivalentes tanto na parturiente quanto no feto. Assim, a futura mamãe poderia estar sentindo uma profunda angústia ante a decisão de manter o filho dentro de seu útero ou de colocá-lo no mundo, renunciando a tê-lo só para si.
No feto também há algo que poderia ser relacionado como o desejo de permanecer na segurança e proteção do útero materno ou ter que enfrentar o mundo desconhecido e, portanto, temido. Trata-se de uma decisão de vida ou de morte. Muitas vezes há necessidade da intervenção médica, para que o nascimento ocorra, principalmente se é constatada a existência de sofrimento fetal.
Alguns obstetras optam por induzir o parto por razões várias. Enquanto que para muitas mulheres é percebido como uma grande violência, para outras, esperar mais tempo é uma violência maior. De qualquer maneira e apesar de ser realizado em condições fisiológicas ideais, o parto induzido é experienciado de forma menos gratificante que o parto espontâneo, pois pelo fato de ser um desencadeamento artificial, demanda mais tempo e sofrimento da parturiente, sem contar que é uma violência para o bebê, pois será retirado do útero antes do tempo. Mas algumas vezes este procedimento é necessário, principalmente se já passou do prazo previsto para o nascimento e o bebê corre o risco de entrar em sofrimento.
O parto sob peridural é uma técnica mais recente e a mais utilizada pelos obstetras, pois anestesia apenas a metade inferior do corpo da mulher. Desta feita, a parturiente pode experienciar um parto sem dor, mantendo-se consciente, participativa e, principalmente, presenciar o nascimento do filho.
Muitas mulheres, entretanto, reclamam da sensação de estranheza por sentir apenas a parte superior do corpo, impedindo-as de movimentar as pernas e de caminhar. Pode surgir, também, o temor de ficar paralítica, uma vez que a agulha é introduzida na espinha.
A desvantagem da peridural e da raquidiana é dificultar a realização da força de expulsão, o que pode ser necessário o uso do fórceps. Isto não ocorre com a anestesia local, realizada na área perineal, mas traz a desvantagem de não aliviar a percepção das contrações finais do trabalho do parto e da expulsão.
Em alguns casos, faz-se necessária a anestesia geral e que leva a parturiente à perda da consciência e, conseqüentemente, ao contato com o bebê logo após a saída do útero e que não lhe permite escutar suas primeiras manifestações na vida aérea.
O maior problema causado por esta anestesia é que o remédio atravessa a barreira placentária produzindo graus variados de depressão fetal. Também se verificou que é mais freqüente a sensação de indiferença materna diante do filho, após a retomada da consciência.
Finalmente temos o parto cesáreo, cuja vivência também é percebida diferentemente entre as parturientes.
Na obstetrícia moderna, a cesariana é indicada e necessária, principalmente se há possibilidade de complicações para mãe e ou para a criança. De qualquer forma, para o feto, a cesariana sempre representa uma forma de violência contra si mesmo. Se realizada sob anestesia geral, há uma quebra intrapsíquica entre a mãe e a criança, o que dificulta o fortalecimento do vínculo entre elas. Quando é possível aplicar a anestesia peridural, que suprime a dor mas conserva a consciência, a mãe pode acolher o bebê no seu primeiro contato com o mundo externo, o que facilita a consolidação da relação vincular.
Há mulheres que insistem na cesárea programada, por temerem que o parto normal deixe a vagina larga ou frouxa prejudicando sua sexualidade. Na verdade, a vagina é suficientemente elástica para dar passagem ao bebê, sem alterar suas dimensões de modo permanente, como também com a episiotomia não ocorre a rotura do períneo.
O impacto de um parto desencadeado de maneira espontânea, sem controle, é outro temor que motiva a atitude materna à extrema passividade que é propiciada pela cesariana, em que o bebê é retirado dela sem sua participação. Essa atitude diante do parto vaginal, principalmente em relação às dores, tem paralelo com a dificuldade de assumir a função maternal de não dar conta do trabalho do parto, como se ainda fosse uma criancinha que precisasse ser poupada.
Para o bebê, a cesárea programada, num momento em que não houve o início do trabalho do parto e quando nada o havia preparado para uma rápida transição para a vida aérea, é percebida como tendo sido arrancado violentamente de seu meio sem que ele e sua mãe tivessem manifestado um sinal biológico ou desejo.
Há de se repensar a cesariana, a pedido ou necessidade, no sentido de humanizar o nascimento do bebê por esta via, para que lhe seja menos traumático e violento, bem como não prejudicar o vínculo que une os pais e ele. Assim, a mãe deve permanecer em comunicação interna com seu filho, dando-lhe sustentação e compreensão do que irá ocorrer. A grande dificuldade é que, neste momento, a mãe também está com muito medo da anestesia, da cirurgia, e o que consegue transmitir para o bebê é um intenso desgaste emocional, o que o fragiliza ainda mais. Em geral, os bebês de cesárea nascem hipotérmicos e tensos.
Para amenizar o sofrimento e o sentimento profundo de ameaça contra sua vida, o bebê deveria ser colocado imediatamente em contato com a mãe, ao sair do útero, para que pudesse manter os referenciais maternos tão conhecidos e amados. Quando isso não for possível, seria ideal o pai acompanhar a equipe nos cuidados de seu filho, falando com ele, uma vez que reconhece sua voz e se reassegura.
Concluindo, se houvesse uma preparação psicológica da gestante, principalmente no terceiro trimestre quando a aproximação do parto é real, a futura mamãe poderia vivenciar e participar mais ativamente deste processo tão emocionalmente intenso, quanto é o nascimento de seu filho, assim como, possibilitar uma tomada de decisão em relação ao tipo de parto com maior consciência e compreensão do que é mais adequado para si e para seu bebê.