Fonte:G1
Níveis de gás carbônico no sangue eram elevados por causa de câncer.Especialista compara problema à situação de um peixe fora d'água.
"Peixe fora d'água" pode ser uma metáfora já gasta, mas é uma boa descrição de como eu me sentia quando comecei a trabalhar como enfermeira. Eu era professora de inglês, acostumada com a conversa dos colegas na hora do café, com a segurança que eu tinha nos livros, com a certeza de que não importavam minhas falhas como professora, pois, no final, a vida de ninguém estava em risco. Depois, estava sozinha em um quarto de hospital com uma jovem que não conseguia respirar. Paciente de câncer que lutava contra uma grave infecção, ela tinha sido transferida da UTI para o meu andar, meia hora antes. Ela estava sentada na cama, ofegante e tremendo descontroladamente. Sua reserva de oxigênio estava conectada e fluindo, mas o sistema de umidificação não estava borbulhando da forma como deveria. Nesse momento, ela gemia. "Ligue!", dizia ela. "Ligue!" Eu manuseei o umidificador, mas então decidi não esperar. "Estou ligando seu oxigênio", disse a ela, puxando o tubo do sistema de umidificação e reconectando-o à reserva de oxigênio do outro lado da cama. Então, subi o oxigênio para seis litros, o máximo que pode ser entregue através das cânulas de plástico responsáveis por enviar o oxigênio às narinas.
Batimentos No entanto, o aumento repentino não trouxe alívio. Ela ainda ofegava, de boca aberta. Saí do quarto e peguei um dispositivo para medir seus batimentos cardíacos e a saturação do oxigênio em seu sangue. A medida era de apenas 80% (o normal é de 98% a 100%), e os batimentos cardíacos eram ainda mais alarmantes: 160, rápido demais para permitir que o oxigênio circule adequadamente através do corpo, e tão rápido que a pressão sanguínea pode cair perigosamente. Outra enfermeira olhou para o quarto. "Algo errado?", perguntou ela. "Chame Lisa", eu disse, referindo-me à enfermeira responsável naquele dia. Fiquei ao pé da cama da paciente como uma sentinela, observando seu pulso: 69 por segundo, depois novamente 80. Lisa chegou, carregando a maca, enquanto outra enfermeira trazia o Zoll, nosso monitor cardíaco portátil e desfibrilador. Uma terceira enfermeira olhou para o dispositivo de pulso e depois para mim. "Devemos agir", afirmou, referindo-se ao fato de que deveríamos acionar uma equipe da UTI para nos ajudar. Lisa os acionou, e acho que ouvi o anúncio de "condição C", de crítica. O que eu mais me lembro é de ter aplicado o desfibrilador, e pensado que colocá-lo numa pessoa tremendo e ofegando por ar é muito diferente de aplicá-lo num boneco de plástico na aula de ressuscitação cardiopulmonar.
Re-respirador Quando os enfermeiros e os médicos da UTI chegaram, demos à paciente metropolol intravenoso para controlar os batimentos cardíacos e a colocamos num "re-respirador", uma máscara que nos permitia entregar 15 litros de oxigênio. A saturação subiu para mais de 90, mas os batimentos cardíacos permaneceram altos e ela ainda não conseguia respirar normalmente. No final, os sintomas e os números disseram tudo, então ela voltou para a UTI, ainda ofegante por ar, a boca aberta e tensa sob a máscara. Respirar exigia tanto esforço que os músculos de seu pescoço ficaram profundos, como guelras. Descobri depois que o problema residia nos níveis de dióxido de carbono, que estavam altos demais. Os humanos geralmente liberam esse gás como parte normal da respiração, mas minha paciente não podia fazer isso, provavelmente porque o câncer cobriu seus pulmões. Nas duas semanas seguintes, ela fez mais viagens de ida e volta para a UTI. Ela parecia estável o suficiente para voltar ao andar, mas então, de repente, precisava do tipo de apoio respiratório que só a unidade de tratamento intensivo poderia oferecer. Um dia, soube que ela tinha morrido. Sem uma autópsia, é impossível dizer o motivo, mas só a devastação de seus pulmões seria mais que suficiente. "Peixe fora d'água": funciona como uma metáfora, mas ver isso na vida real? Deixei a academia para buscar a enfermagem porque queria um trabalho que tivesse sentido. Apesar de ter enfrentado dificuldades com minha mudança de carreira e as diferenças entre a vida universitária e a hospitalar, não houve um dia sequer no qual eu enfrentasse tantas dificuldades quanto a que a minha paciente enfrentou naquele dia, somente para respirar.
Theresa Brown é enfermeira especializada em oncologia.
Batimentos No entanto, o aumento repentino não trouxe alívio. Ela ainda ofegava, de boca aberta. Saí do quarto e peguei um dispositivo para medir seus batimentos cardíacos e a saturação do oxigênio em seu sangue. A medida era de apenas 80% (o normal é de 98% a 100%), e os batimentos cardíacos eram ainda mais alarmantes: 160, rápido demais para permitir que o oxigênio circule adequadamente através do corpo, e tão rápido que a pressão sanguínea pode cair perigosamente. Outra enfermeira olhou para o quarto. "Algo errado?", perguntou ela. "Chame Lisa", eu disse, referindo-me à enfermeira responsável naquele dia. Fiquei ao pé da cama da paciente como uma sentinela, observando seu pulso: 69 por segundo, depois novamente 80. Lisa chegou, carregando a maca, enquanto outra enfermeira trazia o Zoll, nosso monitor cardíaco portátil e desfibrilador. Uma terceira enfermeira olhou para o dispositivo de pulso e depois para mim. "Devemos agir", afirmou, referindo-se ao fato de que deveríamos acionar uma equipe da UTI para nos ajudar. Lisa os acionou, e acho que ouvi o anúncio de "condição C", de crítica. O que eu mais me lembro é de ter aplicado o desfibrilador, e pensado que colocá-lo numa pessoa tremendo e ofegando por ar é muito diferente de aplicá-lo num boneco de plástico na aula de ressuscitação cardiopulmonar.
Re-respirador Quando os enfermeiros e os médicos da UTI chegaram, demos à paciente metropolol intravenoso para controlar os batimentos cardíacos e a colocamos num "re-respirador", uma máscara que nos permitia entregar 15 litros de oxigênio. A saturação subiu para mais de 90, mas os batimentos cardíacos permaneceram altos e ela ainda não conseguia respirar normalmente. No final, os sintomas e os números disseram tudo, então ela voltou para a UTI, ainda ofegante por ar, a boca aberta e tensa sob a máscara. Respirar exigia tanto esforço que os músculos de seu pescoço ficaram profundos, como guelras. Descobri depois que o problema residia nos níveis de dióxido de carbono, que estavam altos demais. Os humanos geralmente liberam esse gás como parte normal da respiração, mas minha paciente não podia fazer isso, provavelmente porque o câncer cobriu seus pulmões. Nas duas semanas seguintes, ela fez mais viagens de ida e volta para a UTI. Ela parecia estável o suficiente para voltar ao andar, mas então, de repente, precisava do tipo de apoio respiratório que só a unidade de tratamento intensivo poderia oferecer. Um dia, soube que ela tinha morrido. Sem uma autópsia, é impossível dizer o motivo, mas só a devastação de seus pulmões seria mais que suficiente. "Peixe fora d'água": funciona como uma metáfora, mas ver isso na vida real? Deixei a academia para buscar a enfermagem porque queria um trabalho que tivesse sentido. Apesar de ter enfrentado dificuldades com minha mudança de carreira e as diferenças entre a vida universitária e a hospitalar, não houve um dia sequer no qual eu enfrentasse tantas dificuldades quanto a que a minha paciente enfrentou naquele dia, somente para respirar.
Theresa Brown é enfermeira especializada em oncologia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário